sábado, 28 de novembro de 2009

Sempre tive muitos sonhos. Passava longos momentos a admirar a janela, a observar a estrada e indagar o que havia reservado para mim. Como os livros de fábulas, estava o futuro em minhas mãos. Escrevia-o diariamente em pensamento, e a ânsia por realizá-lo era a força que me levava adiante.

Nunca me preocupei com a frustração. Nem ao menos conhecia o significado de tal palavra. Sabia exatamente o que ia acontecer: tornar-me-ia uma escritora, minhas idéias e reclamações seriam ouvidas, moraria em Londres e desbravaria o mundo em inúmeras viagens. Acreditava nesses desejos tanto quanto nas estórias que me eram contadas. Todas com um surpreendente final feliz. A curiosidade e a expectativa faziam-me crer na vida como algo mágico, num Ser maior conspirando a meu favor, nas estrelas como olhos tímidos - mas sorridentes - a me acompanhar.

Era feliz assim. Costumava ouvir comentários otimistas sobre as minhas aspirações, e sonhava. Sonhava cada vez mais alto.

Certo dia, entretanto, numa manhã escura, uma tempestade destruiu o que eu tinha de mais concreto. Era o tempo, frio e implacável, incapaz de perdoar até mesmo a ingenuidade. Fiquei perdida no início, admirando as ruínas do meu castelo. De repente, os mesmos que outrora me apoiaram, agora afirmavam que tudo não passava de um delírio, que já era hora de eu abandonar as nuvens e encarar a realidade. Meu universo ficou vago e obscuro. Assistia aos sonhos e à criança que eu possuía se afastarem. Mas era duro dizer adeus.

As fotos e recordações daquela vida longínqua eles haviam queimado. Arrancaram meus brinquedos e menosprezaram meus contos de fadas. Contaram-me outros finais, nem sempre felizes. Tinham-me seqüestrado e eu desconhecia a maneira de voltar. As noites, antes recheadas de fantasia, traziam medo, angústia. As estrelas, tão numerosas em minha terra natal, recusavam-se a brilhar naquele novo céu. As cartas que eu mandava ao passado perdiam-se pelo caminho.

Era o destino rejeitando meu projeto de vida. Justo ele, em quem eu tanto confiava e por quem fora perdidamente apaixonada. Senti-me traída. Finalmente me apresentavam a Frustração, um ser cético e profundamente amargurado.

Hoje, ao olhar para trás, vejo uma menina cheia de desejos, dona de um mundo onde a magia e o real coexistiam. Vou ganhando liberdade e o direito de fazer escolhas, mas preciso aprender a enfrentar a descrença. Há sempre alguém pronto a achar defeito em nosos planos, a prever um amanhã insatisfatório. Não presto mais atenção a esses palpites. Afasto-me da opressão da sociedade resgatando minha antiga personagem. Ela ainda compõe meu espírito, é um porto seguro. Descobri que o castelo sou eu, e não apenas os sentimentos. E que por mais que os anos passem, eles nunca levarão meu olhar. Tenho uma defesa que nem séculos seriam capazes de anular: a imaginação. É com ela que reconstruo o futuro.

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